Especialistas pedem que governos comecem a incluir o bem-estar animal na governança do desenvolvimento sustentável

25/05/2022 07:46

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Cientistas e outros especialistas cobram que os governos passem a incluir o bem-estar animal na governança do desenvolvimento sustentável já, a fim de trabalhar rumo a um mundo mais saudável, mais resiliente e mais sustentável para todos.

A revista CABI One Health publicou um comentário de uma equipe de especialistas, em preparação para a Conferência das Nações Unidas Estocolmo+50, nos dias 2 e 3 de junho de 2022. O comentário explica por que os animais importam para o desenvolvimento sustentável e por que o desenvolvimento sustentável importa para os animais, e exorta os governos a “reconhecerem a importância do bem-estar animal para o desenvolvimento sustentável, buscarem prejudicar menos os animais, e a fazer-lhes o bem como parte da governança do desenvolvimento sustentável.”

A Conferência Estocolmo+50 irá comemorar os 50 anos da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (Suécia) em 1972, e 50 anos de ações globais em prol do meio ambiente. O evento tem como objetivo alavanca e acelerar a implementação da chamada Década de Ação da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo a Agenda 2030, o Acordo de Paris para as mudanças climáticas, e o Marco Global para a Biodiversidade pós-2020. Também visa incentivar a adoção de planos verdes de recuperação pós-COVID-19.

Entretanto, o comentário destaca que nos 50 anos desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, o bem-estar animal continua a ser negligenciado na governança para o desenvolvimento sustentável. Um exemplo claro disso é que a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável inclui 169 metas, algumas das quais tratam da proteção de espécies animais, da biodiversidade e habitats. No entanto, a Agenda não aborda o bem-estar animal. De acordo com os autores, essa é uma importante omissão: “Saúde humana, animal e ambiental estão ligadas,” explicou Jeff Sebo, professor associado de estudos ambientais, professor afiliado de bioética, ética médica, filosofia e direito, e diretor do programa de estudos animais da Universidade de Nova York, e um dos principais autores do comentário. “Os governos precisam tomar medidas para incluir os animais na governança do desenvolvimento sustentável, em prol de animais humanos e não humanos.”
Um exemplo-chave de como a forma como tratamos os animais afeta a nossa capacidade de alcançar o desenvolvimento sustentável é o fato de a pecuária ser um dos principais setores responsáveis pelas mudanças climáticas. Também se observa que, na maioria dos casos, a agricultura animal consome “muito mais terra e água” e produz “muito mais lixo e poluição” que as alternativas à base de vegetais.

O comentário enfatiza que a produção animal industrial também contribui para o surgimento de doenças infecciosas. Este sistema alimentar mantém animais domésticos em pouco espaço, e usa quantidades excessivas de antibióticos para estimular o crescimento e controlar doenças, permitindo assim que doenças infecciosas se desenvolvam e se espalhem. Os atuais surtos de gripe aviária, que já levaram ao abate de milhões de aves em todo o mundo, ilustram muito bem esse risco.

“A pandemia da COVID-19 nos lembra que indústrias como a de produção animal industrial e o comércio de animais selvagens não só prejudicam e matam muitos animais por ano, como também contribuem com ameaças globais de saúde e meio ambiente que prejudicam a todos nós”, disse Cleo Verkuijl, pesquisadora do Instituto Ambiental de Estocolmo e outra dos principais autores do comentário.

O comentário destaca a abordagem de Saúde Única – que reconhece as interligações entre a saúde humana, animal e ambiental – como um “quadro promissor para melhorar a saúde global”, mas observa que suas interpretações convencionais são “antropocêntricas, na medida em que tendem a valorizar os animais não humanos basicamente para o benefício dos seres humanos, o que pode levar a políticas que prejudicam e negligenciam os seres não-humanos desnecessariamente”.

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